POR QUE PAULO FREIRE É TÃO ODIADO PELA ULTRADIREITA TUPINIQUIM?
Ricardo Barros Sayeg
Preso em 1964, durante 72 dias, acusado de subversão, Paulo Freire partiu para o exílio no Chile, onde escreveu seu principal livro: Pedagogia do Oprimido, em 1968. Freire ainda passou pelos Estados Unidos e Suíça. No inquérito aberto pelos militares contra o educador o texto divulgado logo depois que o professor partiu para o exílio afirmava que ele era “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos."
O método Paulo Freire trata da realidade do indivíduo, de sua vida cotidiana. Ele criticava o que chamava de "educação bancária", na qual o professor seria o detentor de todo o conhecimento e o aluno um mero receptor. Para ensinar era preciso partir da realidade do aluno e de seu universo.
Foi assim que professores que seguiam as ideias de Freire ensinaram um grupo de 300 alunos a ler e escrever em menos de 40 horas, em Angicos, no Rio Grande do Norte.
Inicialmente o projeto de Freire foi financiado pela Aliança Pelo Progresso, dos EUA, que acreditava no potencial da educação contra a ameaça do comunismo. Mas os militares viram o método do educador pernambucano como um algo emancipador da classe menos favorecida, como ferramenta de transformação social, como forma de reconhecer e reivindicar direitos. De acordo com jornais dos anos 1960, muitos atribuíram uma greve dos trabalhadores em Angicos, que reivindicavam carteira de trabalho assinada e repouso semanal a Paulo Freire. Quando os professores ensinavam a palavra trabalho, por exemplo, os alunos discutiam a CLT, seus direitos e deveres.
Numa época em que os analfabetos não podiam votar, os professores que seguiam Freire ensinavam a ler e escrever de forma crítica, o que não era considerado algo positivo pelo regime militar que queria manter o povão na miséria e preso pelo cabresto.
Apesar de ser tão criticado no Brasil nos últimos tempos o método criado por Freire nunca foi implantado em nível nacional. Só por algumas prefeituras e escolas comunitárias ou particulares por algum tempo.
No restante do mundo ele divide o panteão com os grandes educadores de todos os tempos, sendo o brasileiro que mais recebeu títulos de doutor honoris causa.
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP
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