PLÍNIO MARCOS
No início da minha carreira como professor de História fui contratado por um colégio na avenida Higienópolis chamado Nuno de Andrade. Por lá dei aulas para as turmas do ensino médio. Entre elas estava um terceiro ano muito especial: os alunos eram atenciosos e gostavam de ouvir e participar das aulas. No segundo semestre estávamos estudando o regime militar pós 1964 e propus uma atividade aos meus alunos: eles deveriam entrevistar seus pais ou avós que tivessem vivido aquele período. Deveriam perguntar como era o cenário político, econômico, social e cultural. Elaboramos em conjunto as perguntas e percebi que um dos meus estudantes estava muito empolgado:
- Meu pai vai adorar falar sobre essa época professor! Ele tem muita história prá contar...
Perguntei a ele então quem era seu pai:
- Ah, professor, o senhor deve conhecer: é o Plínio Marcos!
Plínio Marcos era um grande autor, dramaturgo da maior grandeza, mas não era uma estrela. Detestava o estrelato! Eu o encontrei diversas vezes nas ruas do centro ou nas portas dos teatros vendendo seus livros.
Plínio era santista, de uma família modesta. Foi funileiro, jogador de futebol e chegou a jogar na Portuguesa Santista. Mas foi o circo que mais atraiu o jovem artista. Atuou em rádio e também na TV em Santos e depois em São Paulo, onde ganhou fama representando o motorista Vitório, na novela Beto Rockfeller, da TV Tupi.
A entrevista que Plínio concedeu ao seu filho sobre o período militar é um excelente documento sobre a produção da cultura naquela época, a repressão e a censura que guardo até hoje em duas fitas k7.
No final daquele ano Plínio me convidou para assistir a uma de suas peças que estava sendo apresentada no Teatro Sérgio Cardoso. Lá batemos um bom papo e ele me disse que apreciava muito minha profissão: professor de História e ficou muito feliz com a atividade que eu havia dado ao seu filho. Me disse que havia frequentado até a 5ª série! No entanto, suas obras escritas em linguagem nua e crua fizeram grande sucesso no Brasil, viraram filme e foram traduzidas em inglês, francês, alemão e outras línguas. Seu trabalho foi também bastante estudado na academia.
Foi uma enorme honra para mim ter conhecido Plínio Marcos, esse artista do povo, que retratava os mais simples de maneira realista e direta e lutava bravamente denunciando com suas obras todas as formas de injustiça social.
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