A HUNGRIA DE ORBÁN
Muito se fala da Hungria atual no Brasil de Bolsonaro. Que o país do leste europeu é um modelo para o governo do presidente capitão. Mas poucos conhecem Viktor Orbán, o líder húngaro e como o país funciona na atualidade.
A ascensão de Orbán na Hungria é fruto de diversos fatores: a falta de tradição democrática do país, as decepções de muitos cidadãos com a breve experiência democrática vivida há poucos anos e a fracassada tentativa de golpe em 2006. Tudo isso teria influenciado na vitória da Fidesz-União Cívica Húngara em 2010.
Na análise de Agnes Heller, comentarista de El País, é bastante difícil classificar o regime de Orbán. Não é uma ditadura, pois há partidos de oposição e não existe a pena capital, não é um regime militar, pois conta com ampla participação de civis no governo, também não é fascismo ou nacional-socialismo.
A analista prefere chamá-lo de tirania. Aqueles que fazem oposição à Orbán não são considerados húngaros. Só aqueles que o apoiam. Além disso, os húngaros são enaltecidos como uma raça superior que não pode sucumbir à invasão de povos estrangeiros, em especial os muçulmanos, que não representam nenhuma ameaça aos húngaros nesse momento.
Orbán é visto como o "pai da nação". Suas atitudes têm sempre em vista proteger o povo húngaro contra ameaças. Sejam elas de ordem econômica, social ou cultural: traços claros de populismo.
Os melhores amigos de Orbán são Vladimir Putin, da Rússia e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Não à toa, seus governos possuem clara semelhança com o regime do líder húngaro.
Em As Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt foi a primeira filósofa a identificar a transformação das sociedades de classe em sociedades de massa e isso, que já havia ocorrido na época da ascensão do nazi-fascismo, voltou a ocorrer nos últimos tempos na Europa. Os trabalhadores já não formam uma classe, não têm interesse de classe. Os slogans dos partidos reformistas tornaram-se vazios, sem sentido. As ideologias substituíram os interesses do eleitorado. Daí a disposição de Orbán em ter uma agenda política ligada aos costumes: aos valores da família tradicional, ao cristianismo, à propriedade.
Na Educação há uma enorme intervenção do Estado que tem gradativamente substituído livros didáticos, em especial das humanidades, onde Orbán é colocado como o herói do povo e das tradições húngaras. Nas universidades, reitores e professores têm sido substituídos por apoiadores de Orbán e seu governo escolheu o investidor bilionário judeu de origem húngara George Sóros como o principal vilão do mundo.
A Hungria tem muito a nos fazer refletir sobre o novo Brasil que está nascendo sob o comando de Bolsonaro.
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