ARMANDA E A MERENDA ESCOLAR

ARMANDA E A MERENDA ESCOLAR

Ricardo Barros Sayeg

A professora Armanda Álvaro Alberto morava em Copacabana, no Rio e era de uma família de posses. Sua primeira experiência como educadora se deu em Angra dos Reis, onde lecionava ao ar livre para cerca de 50 crianças, filhos dos pescadores. Por lá tratava com seus alunos sobre Geografia local, artesanato e agricultura.
Em 1921, a professora Armanda fundou no 8º Distrito de Nova Iguaçu, hoje município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma nova escola: a Escola Proletária Meriti.
Naquela época a região de Duque de Caxias era habitado por gente muito pobre e a futura cidade estava sendo devastada pela Malária.
Foi então que Armanda teve a ideia de fornecer merenda para seus alunos. Foi a primeira instituição a fazer isso no Brasil.
Armanda sempre dizia:
"Dá para aprender com fome? Com fome dá para viver?
Ela foi acusada de tentar transformar a escola num restaurante, mas tinha consciência da alimentação para uma boa educação das crianças.
A escola foi a primeira do país a ter o método da pedagoga italiana Maria Montessori. O Método Montessori, transformou o espaço de aula em um ambiente de canto, teatro, arte e natureza, fora das amarras e educação mecânica comuns da época. Na escola de Armanda, conhecida popularmente como “Mate com Angu” as crianças não recebiam notas, não eram aprovados ou reprovados, tampouco se usava as carteiras e lousas. As aulas eram realizadas a céu aberto, onde as crianças aprendiam o cultivo de hortas e como criar o bicho-da-seda e abelhas.
Foi também a primeira escola do país com horário integral, tinha um museu com peças do Jardim Botânico e Museu Nacional. Existia também a caixa escolar que consistia na prestação de assistência em saúde aos alunos e suas famílias, cursos de corte e costura, puericultura, carpintaria, cozinha, higiene infantil e o inédito Círculo de Mães, onde a comunidade era convidada para debater o dia a dia da escola. Também foi no anexo da unidade que criou a primeira biblioteca pública de Duque de Caxias com um clube de leitura.
Como Armanda pertencia à Aliança Nacional Libertadora, ela foi presa pelo governo Vargas, em 1936, acusada de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro e ter participado do levante de 1935. A professora dividiu cela com Olga Benário Prestes e Maria Werneck de Castro, entre outras militantes políticas.
Com sua soltura em 1938, Armanda foi retomando suas atividades como educadora aos poucos mas, sem recursos para manter a escola, tentou passá-la para o governo do estado, entretanto, as negociações fracassaram.
Atualmente a Escola Proletária de Meriti passou para o controle do município de Duque de Caxias e tem o nome de Escola Municipal Dr. Álvaro Alberto.
O legado da professora Armanda, ao introduzir a merenda escolar e métodos inovadores, é fundamental para a Educação no Brasil.


Fonte: https://diariodorio.com/dona-armanda-a-escola-e-o-mate-com…/


Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Educação do estado de São Paulo e professor da FIAP/SP.




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