HISTÓRIA E FRAUDE
Ricardo Barros Sayeg
Fraudar os fatos é uma ótima maneira de agir contra a Democracia.
O principal problema da fraude na História não está apenas na atribuição de um sentido mitificador ou redutor à narrativa e sim na veracidade ou não dos fatos relatados. A fraude aparece quando ocorre a inversão ou a exclusão daquilo que os historiadores chamam de "verdade factual", aquilo que pode ser provado através das fontes, que podem e devem ser confrontadas, para se chegar o mais perto possível da verdade histórica.
A história tem uma função estratégica para nossa sociedade. Se a confiança na verdade histórica for eliminada, as pessoas podem acreditar em tudo que quiserem ou acharem mais conveniente.
A mentira permite reescrever a História e a Democracia pode cair por corrosão, pois ninguém mais sabe quais são os limites. O que é ou não verdade. Não é mais necessário se debater posições divergentes. A "verdade" já está dada por quem está no poder e é inquestionável.
Uma fraude histórica pode até emplacar ou tropeçar nas suas próprias pernas. Mas quando os sinais do passado passam a piscar incessantemente gerando um enorme desconforto na sociedade?
Essas reflexões podem ser melhor compreendidas ao notar que o atual presidente brasileiro e seus seguidores negam que houve golpe ou ditadura militar no Brasil ou que a escravidão "foi benéfica aos negros" e daí por diante.
Há uma nítida tentativa de reescrever nossa História e corroer o que resta da nossa incipiente Democracia.
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.
Apoiado em:
SPEKTOR, Matias. Diplomacia da Ruptura in Democracia Em Risco? 22 Ensaios Sobre o Brasil Hoje. São Paulo: Cia. Das Letras, 2019.
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