RELIGIÕES AFROBRASILEIRAS
Ricardo Barros Sayeg
Quando dava aulas para turmas de ensino médio numa escola particular aqui em São Paulo, há alguns anos atrás, foram me oferecidas as aulas de Filosofia e um dos temas previstos no conteúdo do segundo ano era Religião. Achei por bem abordar as características de algumas religiões tradicionais, mas também várias outras professadas no Brasil, entre elas as afrobrasileiras: o Candomblé e a Umbanda.
Quando analisei essas religiões com os alunos não houve nenhuma objeção: nem por parte deles, nem de seus pais. Ao contrário, os estudantes acharam essas religiões extremamente ricas em cerimônias, liturgias e símbolos. Abrimos até um seminário para discussão e as aulas foram bem proveitosas.
Entretanto, durante o intervalo, na sala dos professores fui questionado por uma colega que me perguntou:
- Você está falando sobre Candomblé e Umbanda com os alunos?
E eu respondi:
- Sim estou.
Ela então questionou:
- Mas essas não são religiões são apenas crenças. Não deveriam ser tratadas como o Cristianismo ou o Judaísmo, sem citar nenhuma outra.
A partir daí tentei explicar um pouco do meu trabalho à professora que era uma ótima profissional de Matemática, mas extremamente carola: frequentava a Igreja Católica quase todos os dias.
Chamo atenção de vocês, nobres amigos, para esse fato, pois no Brasil, existe uma parcela da população que não vê as religiões afrobrasileiras como religiões, as vêem como crenças ou meros rituais. Com aquelas aulas quis sensibilizar meus alunos sobre várias possibilidades de manifestação da religiosidade e para o respeito que devemos ter com outras religiões.
Hoje vivemos num país onde a intolerância se faz muito presente. Imagens, templos e terreiros de candomblé ou de umbanda são destruídos por fanáticos religiosos e seus líderes são atacados ou até mesmo mortos. E isso se dá pelo desconhecimento das pessoas acerca de tais religiões e pelo incentivo à violência por parte de alguns "líderes religiosos" ou políticos.
Creio que os alunos que passaram por minhas mãos naquelas aulas de Filosofia se tornaram mais respeitadores e conhecedores de várias religiões e puderam fazer sua opção com mais consciência.
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação e professor da FIAP/SP.
Orixás: lindo painel de Djanira retirado do Palácio do Planalto pelo governo Bolsonaro e substituído por uma réplica qualquer.
Desrespeito total às religiões afrobrasileiras.
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