ISAURA E GUTO

ISAURA E GUTO

Ricardo Barros Sayeg

Ele chegou bem de mansinho. Percebeu que Isaura estava muito triste. Ela tinha acabado de saber que sua mãe tinha morrido vítima da COVID-19. Isaura estava sentada na porta do hospital público de sua cidade em meio a muita gente. Então o cão chegou bem perto dela e começou a lamber-lhe as mãos e depois o braço direito. Em troca recebeu um pouco de carinho.

Isaura lembrou que sua mãe adorava animais. Todo mês tirava um pouco de seus parcos rendimentos para alimentar os gatos e cachorros do bairro. Aquele cão de rua que dela se aproximou parecia trazer um recado de sua mãe; de que tudo estava bem agora.

Isaura não se conteve, fez cada vez mais carícias e abraçou o animal como se fosse um outro ser humano, com toda força. Naquele momento tão difícil, nenhum parente estava ali para consolá-la, mas aquele animal abandonado deu todo o apoio que ela necessitava. Não podia abandoná-lo ali na porta do hospital. Agora ele deveria fazer parte de sua vida e de sua família. Achou que ele não tinha nome e tratou de batizá-lo. Seria Guto, em homenagem ao seu finado avô que tanto gostava: José Augusto.

Com uma corda que achou na rua fez uma coleira improvisada e o levou para casa. Hoje, Guto é alegria de Isaura e de seus três filhos. Cães não sabem cozinhar como sua mãe, mas ele sabe brincar com seus filhos como ninguém. Parece até a encarnação de dona Maria que adorava entreter os netos com brincadeiras prá lá de divertidas.

Muitas vezes não damos atenção aos pequenos gestos dos animais, mas eles foram enviados por Deus para nos dar conforto na hora que mais precisamos.

Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.




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