CARLOTA JOAQUINA

CARLOTA JOAQUINA
Ricardo Barros Sayeg

O filme de Carla Camurati, Carlota Joaquina -  Princesa do Brasil, mostrou de maneira caricata tanto a princesa como Dom João, o príncipe regente. Mas nem tudo é caricatura no filme. Há muito de verdade também! Na película, Carlota é tratada como uma nobre devassa e promíscua. Já a história oficial a viu como uma soberana seguidora dos ditames da Igreja e extremamente conservadora.
Como retratada no filme, Carlota Joaquina não era uma mulher bonita. Tinha sua pele marcada pelas cicatrizes da varíola, doença que contraiu ainda criança. Ficou coxa devido a uma queda de cavalo e possuía pelos no buço.
Era uma mulher de atitudes bastante arrogantes. Exigia que todos se ajoelhassem quando ela passava montada em seu cavalo. Dos homens exigia que além de ficarem ajoelhados também tirassem seus chapéus.
Isso causou uma série de incidentes diplomáticos. Os dois mais famosos envolveram o embaixador dos EUA, Thomas Sumpter, que se recusou a ajoelhar quando da passagem da princesa e quase levou chicotadas. Elas só não foram deflagradas, pois o diplomata sacou de sua cintura um par de pistolas ameaçando os guardas reais. A outra envolveu o lorde Strangford que chegou a tomar umas chicotadas por não se ajoelhar para a princesa. Evidentemente, ambos foram reclamar para Dom João que logo aboliu a obrigação para o corpo diplomático.
Dom João e ela não tinham nada em comum. Enquanto Carlota era uma mulher cheia de energia que adorava cavalgar e passear, Dom João ficava a maior parte do tempo dentro do palácio e era o rei do expediente: postergava suas ações o quanto podia.
Dom João e Carlota casaram-se por procuração, atitude comum nas cortes europeias da época. Ela só veio a conhecer o príncipe um mês depois do casamento. A princesa tinha dez anos e ele dezessete!
As desavenças entre os dois começaram cedo: dois meses depois do casamento ela teria lhe atirado um castiçal na testa e lhe mordido a orelha durante a tentativa de Dom João de tirar-lhe a virgindade!
Na verdade o casamento só se consumou cinco anos mais tarde, mas o casal teve nove filhos num período de treze anos.
A princesa tentou dar diversos golpes políticos em seu marido, mas nenhum teve sucesso. Alguns historiadores afirmam que a própria morte de Dom João teria ocorrido por envenenamento causado pela agora rainha de Portugal, em 1826.
Depois da morte de Dom João ela tentou emplacar seu filho, Dom Miguel como rei de Portugal, mas esse foi derrotado por nosso Dom Pedro I que assumiu o trono português com o título de Dom Pedro IV.
Quando embarcou deixando o Brasil teria tirado seus sapatos e dito: "dessa terra eu não quero nem o pó!"
A verdade é que Carlota Joaquina não deixou saudade alguma nos brasileiros de sua época.

Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.

Fontes:
GOMES, Laurentino. 1808 - Como uma Rainha Louca, um Príncipe Medroso e uma Corte Corrupta Enganaram Napoleão e Mudaram a História do Brasil. São Paulo: Planeta, 2014, 2a edição.

MALERBA, Jurandir. A Corte no Exílio: Civilização e Poder às Vésperas da Independência (1808-1822). São Paulo: Cia. Das Letras, 2000.

Filme:
Carlota Joaquina (Brasil, 1995), direção: Carla Camurati.

Carlota Joaquina: "Dessa terra eu não quero nem o pó."


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