"A QUESTÃO SOCIAL É CASO DE POLÍCIA."
Ricardo Barros Sayeg
O aforismo acima é pretensamente atribuído ao presidente Washington Luiz (1926-1930) e mostra bem como as oligarquias da Primeira República viam as reivindicações do povo e suas manifestações.
De lá para cá pouca coisa mudou. Hoje pela manhã liguei o aparelho de TV num programa de notícias da Record TV. Confesso que não gosto de assistir a emissora do bispo da Universal por motivos óbvios. Mas o aparelho pregou essa peça em mim logo pela manhã.
Por lá assisti uma reportagem sobre a desapropriação de um terreno da Ecovias embaixo de um viaduto da rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo à Baixada Santista. A polícia chegou por volta das 5 da manhã e começou a colocar tudo abaixo. Mulheres, crianças e idosos foram desapropriado nesse frio, em plena pandemia, sem direito a nada. Alguns entravam no meio do fogo que foi ateado nos barracos para pegar o pouco que lhes restava.
Fiquei triste com as cenas logo pela manhã.
O Brasil é um país caracterizado pela enorme desigualdade social, onde a violência é usada sem dó pelas autoridades, principalmente contra os mais pobres.
Antes da desapropriação não seria adequado que a Justiça em contato com as autoridades encontrassem um lugar para aquelas pessoas morarem, criarem seus filhos, viverem com dignidade?
O apresentador da Record TV disse que era assim mesmo: que quando a Justiça determinava as pessoas tinham de sair imediatamente, sem questionamento.
O problema é que estamos nos tornando cada vez mais insensíveis com esses problemas. Achamos natural negros sendo espancados em shoppings ou nas ruas, pessoas em condição de enorme vulnerabilidade sendo abandonadas pelas cidades e o governo que escolhemos de braços cruzados.
Fico muito triste em saber que no Brasil a vida humana, em especial dos mais pobres, não vale nada!
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.
Fogo numa favela em São Paulo: cenas comuns na TV.
Comentários
Postar um comentário