UMA PEQUENA RETROSPECTIVA HISTÓRICA E OS GRANDES PROBLEMAS BRASILEIROS DO PÓS-PANDEMIA
Ricardo Barros Sayeg
Tenho ouvido falar por algumas vozes desinformadas que esse governo tem dado especial atenção aos pobres promovendo a maior redistribuição de renda já vista na História. E isso é verdade sob alguns aspectos. De fato, foram assistidas mais de 60 milhões de pessoas através do auxílio emergencial de 600 reais, bem como outros programas de redistribuição de renda. Entretanto, se a pandemia de COVID-19 não tivesse acontecido? Essa seria a atitude do atual governo? Tudo indica que não.
O receituário neoliberal de Paulo Guedes tinha como principais objetivos privatizar empresas rentáveis para o governo, diminuir o tamanho do Estado a níveis mínimos e retirar conquistas trabalhistas. Tudo para melhorar a competitividade das empresas e indústrias brasileiras.
O único problema de quem pensou nessa fórmula mágica é que sem mercado interno não há consumo, sem consumo não há comércio, sem comércio não há indústrias. E o Brasil tenderá a virar a colônia de exploração que foi até o início do século XIX.
O Brasil peca por não ter uma política industrial, nem um incentivo de fato a uma educação de qualidade. Aliás isso é coisa antiga. Desde Dona Maria I, a Louca, que proibiu a instalação de manufaturas no Brasil, passando pelo período imperial que teve no Barão de Mauá sua figura emblemática no processo de industrialização do período. O barão faliu devido à revogação da Tarifa Alves Branco, que incentivava a produção nacional em detrimento das importações. Veio a República, novo surto industrial. Chegaram por aqui imigrantes cheios de entusiasmo, força de trabalho e recursos: os Matarazzo iniciaram seu parque industrial no início do século XX em São Paulo, que se tornou a "locomotiva do Brasil". Vargas rompeu com a República das Oligarquias, mas deu enorme incentivo à indústria genuinamente brasileira. JK, em seguida, atraiu para o Brasil as montadoras de automóveis e outras indústrias: desenvolveu o Brasil "50 anos em 5". Os militares também mantiveram um apoio à indústria brasileira. Mas depois da redemocratização a indústria nacional foi ladeira abaixo, bem como o mercado consumidor e o rendimento dos brasileiros.
Hoje vivemos a subserviência dos produtos "made in China". Quem tem a coragem de enfrentar os chineses nessa concorrência?
E aí vai: não desenvolvemos nossa indústria, não incentivamos o mercado interno, não redistribuímos renda, não investimos numa Educação, em Ciência ou Tecnologia inovadora e de qualidade. O Brasil voltou ao ponto de partida: nos tornamos um país exportador de commodities, tal como no período colonial.
O Brasil é um raro caso de um país que retrocedeu no tempo. Ao invés de nos desenvolvermos voltamos para trás.
E agora? Na realidade pós-pandemia ou enfrentamos a questão do incentivo em Educação, Ciência e Tecnologia para desenvolvermos nossa própria indústria e nosso mercado interno e assim melhorarmos a renda dos nossos trabalhadores ou o Brasil vai perder o último vagão do trem da História. E olha que esse trem vai demorar séculos para passar de novo!
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.
Complexo industrial dos Matarazzo, na Barra Funda, em São Paulo, no início do século XX.
Ricardo Barros Sayeg
Tenho ouvido falar por algumas vozes desinformadas que esse governo tem dado especial atenção aos pobres promovendo a maior redistribuição de renda já vista na História. E isso é verdade sob alguns aspectos. De fato, foram assistidas mais de 60 milhões de pessoas através do auxílio emergencial de 600 reais, bem como outros programas de redistribuição de renda. Entretanto, se a pandemia de COVID-19 não tivesse acontecido? Essa seria a atitude do atual governo? Tudo indica que não.
O receituário neoliberal de Paulo Guedes tinha como principais objetivos privatizar empresas rentáveis para o governo, diminuir o tamanho do Estado a níveis mínimos e retirar conquistas trabalhistas. Tudo para melhorar a competitividade das empresas e indústrias brasileiras.
O único problema de quem pensou nessa fórmula mágica é que sem mercado interno não há consumo, sem consumo não há comércio, sem comércio não há indústrias. E o Brasil tenderá a virar a colônia de exploração que foi até o início do século XIX.
O Brasil peca por não ter uma política industrial, nem um incentivo de fato a uma educação de qualidade. Aliás isso é coisa antiga. Desde Dona Maria I, a Louca, que proibiu a instalação de manufaturas no Brasil, passando pelo período imperial que teve no Barão de Mauá sua figura emblemática no processo de industrialização do período. O barão faliu devido à revogação da Tarifa Alves Branco, que incentivava a produção nacional em detrimento das importações. Veio a República, novo surto industrial. Chegaram por aqui imigrantes cheios de entusiasmo, força de trabalho e recursos: os Matarazzo iniciaram seu parque industrial no início do século XX em São Paulo, que se tornou a "locomotiva do Brasil". Vargas rompeu com a República das Oligarquias, mas deu enorme incentivo à indústria genuinamente brasileira. JK, em seguida, atraiu para o Brasil as montadoras de automóveis e outras indústrias: desenvolveu o Brasil "50 anos em 5". Os militares também mantiveram um apoio à indústria brasileira. Mas depois da redemocratização a indústria nacional foi ladeira abaixo, bem como o mercado consumidor e o rendimento dos brasileiros.
Hoje vivemos a subserviência dos produtos "made in China". Quem tem a coragem de enfrentar os chineses nessa concorrência?
E aí vai: não desenvolvemos nossa indústria, não incentivamos o mercado interno, não redistribuímos renda, não investimos numa Educação, em Ciência ou Tecnologia inovadora e de qualidade. O Brasil voltou ao ponto de partida: nos tornamos um país exportador de commodities, tal como no período colonial.
O Brasil é um raro caso de um país que retrocedeu no tempo. Ao invés de nos desenvolvermos voltamos para trás.
E agora? Na realidade pós-pandemia ou enfrentamos a questão do incentivo em Educação, Ciência e Tecnologia para desenvolvermos nossa própria indústria e nosso mercado interno e assim melhorarmos a renda dos nossos trabalhadores ou o Brasil vai perder o último vagão do trem da História. E olha que esse trem vai demorar séculos para passar de novo!
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.
Complexo industrial dos Matarazzo, na Barra Funda, em São Paulo, no início do século XX.
Comentários
Postar um comentário