RACISMO NOS EUA: UMA EXPERIÊNCIA PESSOAL
Ricardo Barros Sayeg
Há alguns anos atrás tive a oportunidade de fazer uma viagem de carro de Miami, passando por Orlando e Tallahassee, capital da Flórida até Tupelo, no Mississipi. Cruzamos a Geórgia, Alabama e chegamos ao Magnolia State, como o Mississipi é conhecido.
Logo nos primeiros dias não senti nenhum tipo de preconceito, nem contra nós brasileiros, nem contra os demais latinos ou afrodescendentes, afinal estávamos na Flórida, um estado marcado pela diversidade, mas na medida em que fomos mergulhando na deep América, pude notar que o preconceito se fazia presente.
Na verdade, faz parte da cultura estadunidense a classificação: ou você é branco ariano, ou é latino (branco, pardo ou negro), ou indiano (vi muitos por lá), oriental ou afrodescendente. E aí os norte-americanos entendem que o afrodescendente é aquele que tem algum tipo de ascendência negra. Um pingo de sangue negro basta para você ser classificado como tal.
Quando chegamos ao Mississipi três coisas me chamaram atenção: a primeira é que na estrada só tinham carros ocupados por brancos, latinos ou negros. Não havia entre os integrantes dos veículos gente de outra etnia a não ser essas. Em Tupelo, cidade famosa onde Elvis nasceu, fomos a um flea market (mercado de pulgas), onde você pode comprar coisas baratas, convidados por nossos anfitriões estadunidenses brancos. O mercado a céu aberto não tinha nenhum negro e um local de venda de armas, onde se comercializavam armamentos e munição a céu aberto. Evidentemente, depois de comprá-las você deveria registrá-las numa barraca próxima onde se encontrava o representante do xerife do condado.
Ao sair pelas ruas de Tupelo, a pé e sozinho, sem querer pisei na propriedade de um cidadão (as ruas não tinham calçamento) e logo ouvi o barulho do preparar da arma do proprietário. Percebi que tinha de tirar o pé dali e ir para o leito carroçavel da via.
Quando cheguei ao supermercado um assistente negro me cumprimentou:
- Good afternoon, sir, mas olhando sempre para baixo. Me senti muito mal. Sei que existe racismo no Brasil, mas ele não parece ser tão velado e escancarado como lá.
O que aconteceu a George Floyd serviu para reabrir as feridas que nunca cicatrizaram por completo na terra do Tio Sam.
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP
Placa indicando sua chegada a Tupelo, no Mississipi, the Elvis' Birthplace
Ricardo Barros Sayeg
Há alguns anos atrás tive a oportunidade de fazer uma viagem de carro de Miami, passando por Orlando e Tallahassee, capital da Flórida até Tupelo, no Mississipi. Cruzamos a Geórgia, Alabama e chegamos ao Magnolia State, como o Mississipi é conhecido.
Logo nos primeiros dias não senti nenhum tipo de preconceito, nem contra nós brasileiros, nem contra os demais latinos ou afrodescendentes, afinal estávamos na Flórida, um estado marcado pela diversidade, mas na medida em que fomos mergulhando na deep América, pude notar que o preconceito se fazia presente.
Na verdade, faz parte da cultura estadunidense a classificação: ou você é branco ariano, ou é latino (branco, pardo ou negro), ou indiano (vi muitos por lá), oriental ou afrodescendente. E aí os norte-americanos entendem que o afrodescendente é aquele que tem algum tipo de ascendência negra. Um pingo de sangue negro basta para você ser classificado como tal.
Quando chegamos ao Mississipi três coisas me chamaram atenção: a primeira é que na estrada só tinham carros ocupados por brancos, latinos ou negros. Não havia entre os integrantes dos veículos gente de outra etnia a não ser essas. Em Tupelo, cidade famosa onde Elvis nasceu, fomos a um flea market (mercado de pulgas), onde você pode comprar coisas baratas, convidados por nossos anfitriões estadunidenses brancos. O mercado a céu aberto não tinha nenhum negro e um local de venda de armas, onde se comercializavam armamentos e munição a céu aberto. Evidentemente, depois de comprá-las você deveria registrá-las numa barraca próxima onde se encontrava o representante do xerife do condado.
Ao sair pelas ruas de Tupelo, a pé e sozinho, sem querer pisei na propriedade de um cidadão (as ruas não tinham calçamento) e logo ouvi o barulho do preparar da arma do proprietário. Percebi que tinha de tirar o pé dali e ir para o leito carroçavel da via.
Quando cheguei ao supermercado um assistente negro me cumprimentou:
- Good afternoon, sir, mas olhando sempre para baixo. Me senti muito mal. Sei que existe racismo no Brasil, mas ele não parece ser tão velado e escancarado como lá.
O que aconteceu a George Floyd serviu para reabrir as feridas que nunca cicatrizaram por completo na terra do Tio Sam.
Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP
Placa indicando sua chegada a Tupelo, no Mississipi, the Elvis' Birthplace
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