A FEBRE AMARELA NO BRASIL IMPÉRIO: NEGACIONISMO E CRÍTICAS AO ISOLAMENTO SOCIAL

A FEBRE AMARELA NO BRASIL IMPÉRIO: NEGACIONISMO E CRÍTICAS AO ISOLAMENTO SOCIAL
Ricardo Barros Sayeg

A negação de uma epidemia (ou de uma pandemia, como a atual) e ao isolamento social não são novas no Brasil.
Em 1849, um navio vindo dos EUA, trouxe alguns tripulantes infectados com a febre amarela e aportou em Salvador.
A aparente tranquilidade vivida pelo Brasil Império foi abalada por essa doença. A febre amarela já era conhecida no exterior, mas desconhecida no Brasil. A doença avançou sem piedade nas cidades do litoral brasileiro.
Apesar disso, no Senado houve diversos discursos negando a gravidade da doença. Alguns políticos chegaram a pensar que não se tratava da febre amarela.
Em dezembro de 1850, o senador e ex-ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos (MG), em seu pronunciamento, garantiu que a doença não era tão grave assim e chegou a por em dúvida se seria mesmo a febre amarela. Duas semanas após fazer seu pronunciamento, o senador morreu - justamente de febre amarela!
No espaço de apenas dois meses o Senado perdeu quatro parlamentares.
Apesar disso, muitos parlamentares continuavam negando a gravidade da situação. Num discurso, o senador pelo Maranhão, Costa Ferreira teria dito:
"Eu tenho algumas 22 pessoas na minha casa e não tive uma única delas doente."
Alguns outros senadores diziam que aquela doença certamente não seria febre amarela, pois não tinha no Brasil o grau de letalidade que tinha no exterior.
Foi justamente a epidemia de febre amarela ocorrida no Império que mudou um hábito muito difundido na época: o de enterrar os corpos dentro e ao redor das igrejas. Surgiram leis que precisam que os cemitérios deveriam se localizar bem longe do centro das cidades.
Naquela época não havia grandes avanços científicos no enfrentamento das doenças, nem uma ação coordenada do governo do Império, nem dos governos das províncias, mas havia o apreço do imperador Dom Pedro II pela ciência e pelo conhecimento, bem diferente dos dias atuais.

Ricardo Barros Sayeg é diretor da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP.

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-07/no-brasil-imperio-chegada-de-virus-mortal-provocou-negacionismo-e-critica-a-quarentenas.html

Charge da Revista Ilustrada, de 1876, mostra a morte agradecendo o trabalho de um senador do Império.

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