COVID-19: A FALTA DE SENSIBILIDADE DA ELITE BRASILEIRA

O PICO DA COVID-19 NAS CLASSES ALTAS JÁ PASSOU... O PROBLEMA É NAS FAVELAS
Ricardo Barros Sayeg

Isso é o que afirmou ao jornal O Estado de São Paulo, um dos proprietários da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, mostrando total desconhecimento da realidade e total falta de sensibilidade com a maioria da população brasileira. E disse ainda:
"Acompanhando um pouco nossos números eu diria que o Brasil está bem. Nossas curvas não estão tão exponenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar. Teremos uma fotografia mais clara nas próximas duas a três semanas. O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, a classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo."
Setenta dias após o primeiro caso confirmado do novo coronavírus, o Brasil soma 107.780 registros da doença e 7.321 mortes, conforme dados do ministério da Saúde, do último dia 4 de maio, segunda-feira.
Essas afirmações que mostram uma total falta de sensibilidade para com os mais pobres fez com que a XP Investimentos perdesse vários investidores de ontem para hoje. Isso é sinal que alguma parte da nossa elite social ainda tem um pingo de sensibilidade.
O Brasil apresenta um crescimento exponencial do número de infectados e mortes pela COVID-19, que é uma doença que atinge a todos sem excessão. Evidentemente que os mais pobres serão mais atingidos, pois eles não têm as mínimas condições de existência num dos países mais desiguais do mundo. Ocorre que se esses pobres morrerem em massa, não haverá gente para os ricos explorarem e aí virá, em seguida, a socialização da pobreza.
O senhor Benchimol não está sozinho nessa análise. Boa parte da elite brasileira concorda com ele. Para eles tudo, para o restante da população nada. Esse é o resultado de um país que nunca implementou políticas de redistribuição de renda de verdade, que nunca realizou uma reforma agrária, que não enfrentou a questão da pobreza, nem as diferenças entre as diversas etnias.
Os países que conseguiram os melhores resultados em relação à pandemia, foram aqueles que implementaram mais cedo as medidas de isolamento social e fizeram mais testes da COVID-19 na sua população.
Pobre Brasil: com uma elite míope e ignorante nunca sairemos da completa situação de subdesenvolvimento na qual nos encontramos.

Ricardo Barros Sayeg é diretor de escola da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e professor da FIAP/SP

Foto de uma grande cidade brasileira: o enorme contraste da desigualdade social


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